Não tendo sido propriamente uma menina da cidade, estava ainda mais longe de ser uma do campo. Sempre gostei de sentir a proximidade ao grande centro urbano e de todas as ofertas culturais, gastronómicas e de lazer que ele oferece. Contudo, e olhando para as oportunidades que tenho aproveitado, eu diria que estão muito aquém do que poderia aproveitar, ocorrendo apenas de lés a lés.
A província, pelo contrário tem vindo a ocupar um lugar sucessivamente maior na fatia da minha vida que lhe dedico. Não só porque moro actualmente numa povoação de província onde ainda existe familiaridade no trato e onde cada vez desenvolvo mais actividades que me dão muito prazer, como trabalho num local com características semelhantes, longe da confusão da grande cidade e do ritmo frenético que ela impõe. Todavia, quer numa vertente como noutra foram opções que tomei já na idade adulta. A primeira por questões sobretudo económicas e a segunda porque a oportunidade de trabalho se me apresentava vantajosa do ponto de vista da progressão profissional, não tendo propriamente considerado a sua localização na tomada de decisão.
No último ano, por razões várias, dou por mim a frequentar outra vez a grande cidade nas horas de maior agitação. Fruto das acções de formação primeiro e mais recentemente com os tratamentos, dou por mim a fazer parte dessa imensa amálgama de pessoas que cruzam as avenidas, sempre a correr ao som do semáforo que ameaça ficar verde para os carros, ou a desesperar por um lugar para estacionar, ou a comer qualquer coisa em pé porque não há lugares sentados e a urgência dos compromissos assim o exige.
E enquanto espero na passadeira que o sinal abra para mim, dou por mim a pensar que já não faço parte dessa massa compacta de pessoas que vive a grande cidade, que já seria difícil voltar a essa impessoalidade citadina da qual fui parte também durante tanto tempo.
Somos criaturas de hábitos, uns que se adquirem outros, outros que se cultivam…mas olhando agora à distância sinto-me mais confortável no meu mundo da província, ainda que precise por vezes de respirar a atmosfera da cidade.
A menina da cidade está cada vez mais menina do campo…
…menos menina também. É que hoje sou
pequenina e acrescento mais um ano à minha história de vida.