sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Indo...

Tenho o sabor da expectativa na boca.
Degusto o prazer e a recompensa de ter conseguido chegar à última fase do tratamento.
Anseio pelo tempo em que me vou dedicar a construir os castelos, não sei se de ar ou com as pedras que fui recolhendo pelo caminho, mas vou construir.

Porque independentemente do resultado final, desta vez as minhas expectativas têm concordância com a possibilidade e isso, só por si é o balão de oxigénio que estava a precisar.

Não sei se iremos conseguir agora ou noutra ocasião, num futuro próximo, ou mais longínquo. Mas sei que agora estamos finalmente em jogo e eu estou feliz por isso.

sábado, 24 de novembro de 2007

A provincia e eu

Não tendo sido propriamente uma menina da cidade, estava ainda mais longe de ser uma do campo. Sempre gostei de sentir a proximidade ao grande centro urbano e de todas as ofertas culturais, gastronómicas e de lazer que ele oferece. Contudo, e olhando para as oportunidades que tenho aproveitado, eu diria que estão muito aquém do que poderia aproveitar, ocorrendo apenas de lés a lés.

A província, pelo contrário tem vindo a ocupar um lugar sucessivamente maior na fatia da minha vida que lhe dedico. Não só porque moro actualmente numa povoação de província onde ainda existe familiaridade no trato e onde cada vez desenvolvo mais actividades que me dão muito prazer, como trabalho num local com características semelhantes, longe da confusão da grande cidade e do ritmo frenético que ela impõe. Todavia, quer numa vertente como noutra foram opções que tomei já na idade adulta. A primeira por questões sobretudo económicas e a segunda porque a oportunidade de trabalho se me apresentava vantajosa do ponto de vista da progressão profissional, não tendo propriamente considerado a sua localização na tomada de decisão.

No último ano, por razões várias, dou por mim a frequentar outra vez a grande cidade nas horas de maior agitação. Fruto das acções de formação primeiro e mais recentemente com os tratamentos, dou por mim a fazer parte dessa imensa amálgama de pessoas que cruzam as avenidas, sempre a correr ao som do semáforo que ameaça ficar verde para os carros, ou a desesperar por um lugar para estacionar, ou a comer qualquer coisa em pé porque não há lugares sentados e a urgência dos compromissos assim o exige.
E enquanto espero na passadeira que o sinal abra para mim, dou por mim a pensar que já não faço parte dessa massa compacta de pessoas que vive a grande cidade, que já seria difícil voltar a essa impessoalidade citadina da qual fui parte também durante tanto tempo.

Somos criaturas de hábitos, uns que se adquirem outros, outros que se cultivam…mas olhando agora à distância sinto-me mais confortável no meu mundo da província, ainda que precise por vezes de respirar a atmosfera da cidade.

A menina da cidade está cada vez mais menina do campo…
…menos menina também. É que hoje sou pequenina e acrescento mais um ano à minha história de vida.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ainda

Ainda a recuperar da estopada de ontem (2 exames teóricos, longos e complicados de 2h30m cada um, mais uma viagem de 300 km) …
Ainda com esperança de conseguir levar este tratamento até ao fim (também aqui se trava uma batalha folicular: ou hei-de de ter demais ou nenhuns…desta vez ando nos nenhuns)
Ainda a tentar ultrapassar as marcas que a implementação do sistema de auto gestão familiar deixou (frigorifico vazio, quilos de roupa para lavar e passar e nenhuma vontade de fazer o que quer que seja)

Está tudo em aberto. Os exames não correram particularmente bem, não eram nada fáceis (muito pelo contrário) e se ficar pelo caminho pelo menos tenho em mim o orgulho de ter ido à luta e de não ter desistido. Mas confesso que gostava muito de não ter feito má figura… As boas noticias é que brevemente saberei se passei à fase seguinte, ou seja, não vou a ficar em "suspense" por muito tempo. Curiosamente o mesmo se aplica ao meu tratamento…
O destino tem destas sintonias…

sábado, 17 de novembro de 2007

Desejos de longa data

Por aqui anda-se à volta dos livros, sebentas e legislação.
Se por um lado mantenho a frieza quanto à aproximação do dia, por outro já vou sentindo o peso da coisa em si. Este vai ser o fechar de um ciclo na minha vida, já que vai ser a última tentativa que faço nesta área. Mas estranhamente, sinto-me tranquila.
Porque sei que, seja qual for o resultado, vou sair deste impasse e isso transmite-me algum conforto interior.
Desde que terminei a faculdade que ambiciono ir para esta área. Tentei muitas vezes, fiquei por mais de uma vez à porta, numa delas demasiado flagrantemente.
Aprendi da forma mais difícil que muitas vezes não basta ter a melhor nota pois outros “conhecimentos” falam mais alto. Custou-me muito a digerir essa situação, a aprender que nem tudo depende efectivamente do nosso esforço ou dedicação, crença ou forma positivista de pensar nas coisas. Passados todos estes anos sinto que vai sendo tempo de me dedicar a outras perspectivas profissionais e embora em universos diferentes, essa experiência deu-me algum “estofo” para a outra luta, a luta da infertilidade.
A diferença é que se me sinto pronta para aceitar o resultado que vier da primeira, já quanto à segunda sei que não irei baixar os braços.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Alerta à navegação

O aviso de temporal e agitação maritima ontem manifestado foi cancelado.

Fontes próximas anunciaram que o tal “senhor” desaparecido já foi encontrado e que os próximos tempos, embora de pressões altas devido á proximidade da prestação de provas, são favoráveis à ocorrência de anticiclones, com continuação de bom tempo embora com temperaturas altas para a época.

A entidade emissora deste boletim avisa também que os prognósticos quanto à ocorrência de ventos favoráveis a uma mudança de rumo profissional apenas vão sofrer desenvolvimentos a partir de dia 20, o dia D.

E obrigada pelos incentivos que tenho recebido.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Nervoso miudinho

Fui finalmente chamada a prestar provas (lembram-se?).
Fiquei com aquela sensação esquisita na barriga, aquele nervoso miudinho. Olhei para o calendário e pensei que iria calhar no meio do próximo tratamento. Contas de cabeça para aqui, conta dias para ali…em cheio na altura das ecos. Andei a matutar como havia de me desdobrar em duas e fazer as centenas de quilómetros que me separavam entre as duas coisas com o menor dano possível…mas nem precisava de me ter ralado tanto. É que o “outro” não dá as caras…se não tivesse tido de cancelar o tratamento anterior estes seriam dias de expectativa, dias para sonhar, mas assim sendo... resta-me agradecer-lhe quando o "senhor" se dignar a aparecer, por ter tido a gentileza de me desamparar a loja numa altura critica e assim me deixar fazer as provas concentrada apenas nisso.
Ah...mas faça o obséquio de voltar, sim? É que já comprei a medicação e queria dar-lhe uso, pode ser? se não lhe der muita maçada, claro! Muito agradecida.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pensamentos soltos

Faz sentido viver a vida sem sentido? Claramente que não.
Faz sentido procurar um sentido para ela? Sim, sem dúvida.
Faz sentido vivê-la de acordo com esse sentido que se lhe dá? Até que ponto temos nós a clara noção do sentido a tomar? E quando nos sentimos refém desse sentido, como mudar o sentido da vida sem que dela percamos o norte? Adequar a nossa vivência em função do que vamos obtendo é para mim talvez a melhor solução, resguarda-me dos dissabores de não conseguir atingir algumas das metas que estabeleci, mas ao rodar o sentido da minha vida em função daquilo que vou conseguindo saborear, embora reconfortante, deixa-me ainda um certo travo amargo na boca.

Tenho pensado bastante acerca de como viver sem pensar muito nesta parte da minha vida. Como vivê-la sem pensar recorrentemente como será o meu futuro, ou de um futuro apenas a dois, e confesso que me é algo que o faço com alguma dificuldade. Dir-me-ão és nova, tens tanto tempo ainda… eu sei disso, mas isso não torna a minha vivência necessariamente mais preenchida, por muito que a tente recheá-la de bons momentos. Nem me acalma o desassossego que por vezes me morde. Sinto ainda assim que lido melhor com esta incerteza do que o fazia há algum tempo atrás.
Falta-me agora aprender a fazê-lo de forma mais leve e solta…e eis que volto ao sentido da vida.

domingo, 4 de novembro de 2007

Carpe Diem

Um dia que vale a pena...

É aquele que, antecipando-se ao despertador, começa com uma conversa entre almofadas e cobertores, espantando calmamente a preguiça.

É aquele em que tomamos o pequeno-almoço na companhia de alguns amigos.

É aquele em que somos presenteados com uma manhã plena de luz, sons e cor. Aqui e ali uma vista magnifica irrompe a arriba e a costa se revela em todo o seu esplendor. Da Cova do Vapor ao Cabo Espichel, tudo o que a vista alcança é guardado na memória, tendo por moldura um belíssimo passeio matinal por trilhos até então desconhecidos para mim.

É aquele em que me sinto em casa, numa casa que não é a minha e me delicio com um almoço improvisado temperado com muita simpatia.

É aquele em que recebo carícias do sol, numa esplanada à beira-mar, troco ideias, bebo conversas e colho bons momentos.

É aquele em que ao regresso o sol ilumina de laranja apenas os prédios mais altos da capital enquanto me despeço da outra margem, uma margem que durante muitos anos neguei afecto ou interesse, mas que cada vez mais faz parte da minha vida em muitas das suas vertentes.

É aquele em que finalmente me enrosco no sofá com a sensação de ter tido um belo dia, um dia que apaga a ausência daquilo que persigo e que ainda não alcancei.