Ainda navego por entre brumas cinzentas. Espero e confio. Respiro fundo, uma e outra vez, para recomeçar tudo novamente. Um dia após o outro e um dia de cada vez.
No entanto a vida não se compadece de momentos menos bons e por entre estes mares mais agitados cujo rumo vou tentando acertar, o quotidiano prossegue e com ele as rotinas que de mim esperam concretização. Adiante, portanto.
Tive um único professor de filosofia que nos acompanhou durante os 3 anos. Era uma figura peculiar e ainda hoje recordo com saudade as suas aulas. Foi numa dessas aulas que fiquei a conhecer a lenda árabe de Samarcanda.
Segundo a lenda, estava um mercador árabe exercendo o seu mister quando o seu servo mais fiel lhe apareceu muito aflito. Tinha visto a morte junto aos portões de entrada da cidade e esta o fitou muito demoradamente. Angustiado, o mercador que tinha elevada estimada por ele, logo se prontificou a ajudá-lo, disponibilizando o seu melhor cavalo e umas moedas de oiro para que pudesse fugir para longe, para Samarcanda.
No dia seguinte, o mercador encontrou a morte junto ao mercado e a questionou porque tinha olhado tão demoradamente para o seu servo. Esta respondeu que tinha ficado surpreendida por o encontrar ali, já que tinha um encontro marcado com ele em Samarcanda.
Recentemente tive uma reunião numa dada entidade estatal. Lá estava o grande hall, as floreiras e vasos com plantas cujo tamanho denunciava antiguidade. A simpatia da funcionária da recepção contrastava com o minimalismo austero do ambiente. Após uma deselegante e longa espera, fomos finalmente conduzidos por entre corredores labirínticos até à sala onde mais uma vez tivemos de aguardar. Enquanto aguardava mais uma vez ia observando o local e pousei os olhos num poema que alguém tinha escrito com letras recortadas
Agora que o silêncio é um mar sem ondas
E que nele posso navegar sem rumo
Não respondas
às urgentes perguntas que te fiz
Deixa-me ser feliz
Assim
Já tão longe de ti como de mim
Súplica de Miguel Torga
Dei por mim a recordar a lenda de Samarcanda e como certos pensamentos encontram sempre uma forma, por vezes ardilosa de me encontrar. Nem que seja num corredor bafiento escritos a letras recortadas de jornal…
Minha querida, sei bem do que falas. Eu acho que não são os pensamentos que nos procuram mas somos nós que criamos amarras, ainda que por vezes possam parecer invisíveis, a eles. Importa arranjar uma ferramenta forte que ajude a cortar estas amarras mas eu sinceramente tb ainda não a encontrei. Espero que em breve a descubras.
ResponderEliminarum gde beijinho
Olá, Olá,
ResponderEliminarTens lá uma mensagem no meu cantinho...
Beijocas
Não conhecia a lenda mas gostei muito. Obrigada por partilhares ;)
ResponderEliminarBeijocas
... e esta parece ser a encruzilhada da vida. Lembra-te que a nossa mente é como uma lanterna num quarto escuro...
ResponderEliminarEspero que esse foco de luz ilumine aquilo que está escondido.
Beijinho grande
Carla
www.escuta-sorriesente.blogspot.com
Fiquei inquieta ao ler as tuas palavras.
ResponderEliminarSo encontro uma palavra para te dizer: Tem fe, nao te atormentes, fecha os olhos e acredita.
Um abraco com muito carinho